FINADOS OU AMADOS?

Amigos,

hoje como todos sabem, é claro, estamos no dia destinado a lembrança dos finados, e eu, desde pequeno, nunca entendi direito, e continuo a não entender, o motivo deste dia.

Claro que, antes de meu comentário, eu já adianto que não tenho nada contra o dia nem contra o que se propõem a comemorar-se nele, o que eu questiono, é que aqueles que se foram e eu conheci, e amava muito, continuo amando, e eles sempre estão guardados dentro do meu coração.

Por exemplo, meu pai, que nunca teve nenhuma doença grave em toda a sua vida, eu pelo menos, jamais vi meu pai se queixando de nenhuma espécie delas, nem de uma dor de cabeça, um dia disse ai, olhei achando inclusive que ele estava brincando com minha mãe, que dentro de minha casa, era a rainha dos ais...........rs, mas naquele dia, vi que realmente alguma coisa não estava do jeito que deveria estar, ele foi ao médico, tomou uns remédios, e momentâneamente, parecia que tudo passou, mas meu pai nunca mais foi o mesmo, 8 meses depois, exatamente da data que ele disse o ai, ele morreu, e no dia que ele morreu, ele tinha dito para as pessoas que estavam com ele, que queria muito falar comigo, não tivemos esta conversa, tive que sair, acho que era um assunto profissional, naquela épica, trabalhava ainda com publicidade, e provavelmente estava em alguma gravação, mas, voltando ao assunto, nunca tivemos esta conversa, que conforme disse anteriormente, ele queria ter comigo, se fosse algo comum, ele teria mandado dizer para mim qualquer coisa, mas especificamente aquela conversa, ele queria falar pessoalmente, e esperou para isso, e muito, estava de acordo com informações que eu recebi, muito agoniado e angustiado para conversar comigo.

Não deixou nada escrito, gravado, não conseguiu ligar para mim, já tinham chegado os primeiros celulares em São Paulo, e fora isso, tinha uma encrenca chamada Bip, nenhum contado foi feito, nada, essa conversa ficou para outro momento.

Não tem um dia da minha vida, que dou risadas de alguma coisa, principalmente quando tenho que resolver algo sobre manutenção de "n" coisas na minha vida, meu pai sempre tinha uma solução para tudo: desde um carro que parava de repente, até para algo da casa, ele sabia tudo, entendia de tudo, conseguia fazer e arrumar tudo, mas este tipo de coisa, não herdei dele..........rs, algumas coisas até resolvo, mas como ele, nunca.

Lembro do meu pai sempre, em diversas situações, em fatos marcantes, em nossas discussões, em nossas opiniões completamente diferentes, mas sempre fica aquela sensação de que ele vai resolver tudo, mas aquela conversa, eventualmente lembro e imagino do que poderia ser o tema dela, ai falo um pouco comigo mesmo e continuo a fazer o que estava fazendo.

Nunca levei uma flor sequer no túmulo do cemitério, até fui uma vez, muito tempo após o enterro, e nem sabia onde era o lugar, fui até o atendimento numa secretaria que cuida disso no cemitério da Paz, me deram os números, e fui lá, estranho, frio, não senti nada, nem imaginei que iria sentir é claro, mas naquele momento, eu percebi que, ele nunca esteve ali na minha cabeça, pois ele sempre esteve guardado dentro do meu coração, onde eu reservo um lugar para pessoas que amo, independente se estejam respirando ou não, lugar dos amores, lugar muito claro e bonito, lugar muito perfumado, lugar de lembranças queridas, lugar que somente eu sei onde fica, bem no fundo do meu coração.

O que eu percebi naquele dia, e em outras oportunidades que fui a cemitérios, é que as pessoas os visitam como se seus queridos estivessem enclausurados neles, em túmulos apertados, ou então em gavetinhas, sei lá, no meu caso, e eu não estou dizendo que seja o correto e que todos estejam errados, não, de forma nenhuma, tenho um espaço que já descrevi anteriormente, que parece pequeno, mas é enorme, gigante, campos, árvores, espaço inacreditável, e tudo isso, veja bem, dentro do meu coração, onde as lembranças me levam aos que amo, e aos lugares que eu gosto, tudo num fechar de olhos, isso é muito especial.

Nunca tive medo de mortos, sempre vi pessoas quando eu era pequeno, falando deles como algo que devia ser temido, não, eu não, os via como pessoas que estavam lá, mas algo não estava mais, como se o que eu via de alguém que tinha falecido, fosse apenas uma roupa, e esta roupa é que estava dentro de caixões.

Para terminar, gostaria de dizer uma coisa, que muitos podem até desacretirar, rir, achar uma loucura um absurdo, mas tenho certeza que o verei novamente, aliás, que verei todos os que se foram, não sei quando, não sei de que forma, mas que verei verei sim.

Isto me dá uma alegria muito grande, pois em um determinado momento, nem mesmo a morte consegue separar o que temos e vivemos, ai, olhamos bem na cara dela, e gritamos assim para a danada: perdeu, você perdeu, e simplesmente saímos andando, ou voando, sei lá............rs, dando costas para esta que nos privou de quem amamos, e agora juntos, ela ficou sem uso, sem nada, sem poder, sem temor.

Com todo o respeito, que hoje, todos os meus amigos, tenham e vivam dentro de seus corações, lembranças bonitas, verdadeiras, desinteressadas, claras, felizes dos seus amados que foram mas nós iremos até eles, cada um no seu tempo e de sua forma, mas em um tempo determinado, estaremos juntos.

Abraços.

Do amigo.

Fábio Luís Stoer